“Blue, um caco azul
Num mar de metal
No céu da cidade
No meio da tarde
Não tem Pão de Açúcar, nem litoral
O mar de São Paulo
É continental”
Esses versos traduzem um pouco minha
atual e deliciosa fase de descoberta de São Paulo. E esse frisson da novidade fica
melhor ainda quando se tem a discografia de Blubell como trilha sonora. Na
verdade, estou descobrindo ao mesmo tempo a cantora e a cidade, ambas
incríveis. Blubell é surpreendente, com sua voz suave e potente ao mesmo tempo
e sempre afinadíssima. Seu estilo remete às divas do jazz de antigamente, mas
também é moderno e atual. Os arranjos são incríveis, misturam pop, jazz, tango,
blues, enfim, a cara de uma metrópole de tantas caras como São Paulo.
Comecei essa jornada de descoberta de
Blubell pelo seu mais recente álbum, “Diva é a mãe”, cuja capa não poderia ser
mais emblemática, trazendo a cantora toda trabalhada no glamour, com cachorrinho
a tiracolo em pleno Minhocão. Mais diva, impossível. As letras, todas de
autoria da própria Blubell, são deliciosas: divertidas, mordazes e irônicas, ao
descreverem desventuras amorosas, mas também densas, sem nunca perderem o bom humor.
É inevitável a sensação de “quem nunca viveu uma história assim?". Amo todas as faixas, mas ouço sem parar a inspiradora
“Bandido”, que me evoca a imagem de uma divertida vilã de novela; “Pra não sentir”,
a mais, digamos, séria, do álbum; e “Blue”, cujos versos iniciais abrem esse
texto e traduzem todo o meu deslumbramento com São Paulo.
Também estou conferindo o CD anterior
ao mais recente, “Blubell & Black Tie”, no qual a cantora revisita
clássicos tradicionalíssimos, mas com assinatura própria na interpretação, como
“La vie en Rose”, “Love for sale”, além da lacrimogênea e emocionante “Ben”, inesquecível
na voz de Michael Jackson, e um surpreendente Nelson Cavaquinho, “Luz Negra”, fechando
o álbum, sofisticadíssimo e irresistível.
Sei que daqui a alguns anos quando relembrar esse meu ciclo atual de descoberta das maravilhas de São Paulo, minha memória irá, imediatamente, aludir à voz e às canções de Blubell. A torcida para que a cantora seja
descoberta pelo grande público o mais rápido possível é imensa. Nossa MPB merece essa qualidade em
meio à mesmice atual. Com todo respeito e pedindo licença à sempre amada,
idolatrada Rita Lee, a mais completa tradução da São Paulo que eu estou
enamorando no momento é Blubell. Só me resta uma inquietante pergunta que não
quer calar: quando é o próximo show? Não posso perder!
Para Mario Teixeira, que me apresentou Blubell.