Há
apenas dois meses morando na Pauliceia, já pude comprovar na prática o que já sabia
na teoria: a desvairada e diversa cena teatral da cidade é incrível! Para rir,
para chorar, para se emocionar, para refletir, para entreter... há opções para
todos os gostos.
“O
Vitor viu” e recomenda alguns dos espetáculos em cartaz:
“FRIDA Y DIEGO” – Teatro Raul Cortez
Texto:
Maria Adelaide Amaral
Direção:
Eduardo Figueiredo
Elenco:
Leona Cavalli e José Rubens Chachá
Sob a
pena sempre inspirada de Maria Adelaide Amaral, a conturbada história de amor
de Frida Kahlo e Diego Rivera nos é apresentada, em ordem não-cronológica. Os
acontecimentos em tempos e locais diferentes vão formando um painel que nos revela
toda o arrebatamento do encontro dessas duas almas inquietas e geniais, em que
a lealdade é mais importante do que a fidelidade propriamente dita. Destaque
para figurinos e cenografia simplesmente incríveis, para a direção inspirada e
surpreendente, para a interpretação emocionada de Leona Cavalli e, sobretudo,
para a construção apaixonante de José Rubens Chachá faz de Diego Rivera. É
impossível sair do teatro sem ficar apaixonado por ele. Mais que recomendável,
espetáculo obrigatório.
“CAROS OUVINTES” – Auditório do MASP
Texto e Direção: Otávio Martins
Elenco:
Petrônio Gontijo, Natállia Rodrigues, Alexandre Slaviero, Rodrigo Lopez, Eduardo Semerjian, Amanda Acosta, Agnes Zuliani e Alex Gruli
Os
bastidores da exibição do último capítulo de uma famosa radionovela nos anos
60, tendo como pano de fundo a ditadura militar, retrata o fim da era do rádio
e a transição para a televisão, com suas telenovelas diárias e mudanças no
cenário musical, como o advento da Bossa Nova, da Tropicália e da Jovem Guarda
no lugar das grandes vozes. Não há fidelidade cronológica. Todas essas mudanças
aparecem no espetáculo de forma mais simbólica do que linear. O texto inspiradíssimo
de Otavio Martins já arrebata o espectador de cara com sua tensão crescente, mostrando
os diferentes posicionamentos políticos, fazendo uma surpreendente correlação
com os dias de hoje, o que torna o espetáculo atualíssimo. A estrutura “mise en
abyme”, que mostra os atores nos bastidores e depois interpretando os respectivos
personagens da radionovela, é outro grande acerto do texto. Tem a melancolia
dos filmes de Scola (me remeteu muito a “O baile”) e Altman (“A Prairie Home Companion”
batizado por aqui como “A última noite”), mas com estilo brasileiríssimo. Todo
o elenco se destaca igualmente, mas pra quem era criança nos 80’s, ver a
ex-Trem da Alegria Amanda Acosta soltando a voz e esbanjando talento, é um atrativo
a mais. Para refletir, se divertir e se emocionar.
“SE EU FOSSE VOCÊ”: O MUSICAL” – Teatro
Cetip
Texto:
Flavio Marinho
Direção
e Coreografias: Alonso Barros
Direção
Musical: Guto Graça Mello
Supervisão
Artística: Daniel Filho
As desventuras de Claudio e
Helena (Nelson Freitas e Claudia Netto), já conhecida do grande público graças
ao sucesso da franquia cinematográfica estrelada por Tony Ramos e Gloria Pires,
chegam aos palcos paulistanos depois de uma temporada de sucesso no Rio. A
divertida despretensão do texto se une a uma produção grandiosa, digna dos
melhores musicais da Broadway, com excelentes atores-cantores e uma dupla de protagonistas
muito bem afinados, com participação especialíssima de Fafy Siqueira. Tudo isso
embalado pelas canções de Rita Lee, ou seja, irresistível.
“HOMENS NO DIVÔ – Teatro União Cultural
Texto
e Direção: Darson Ribeiro
Elenco:
Darson Ribeiro, Olivetti Herrera e Guilherme Chelucci
Comédias que retratam o
universo feminino dominam a cena há muito tempo. Os homens, ao contrário, não
costumam ter muita voz nesse filão e quando têm, quase sempre não conseguem escapar
dos estereótipos e caricaturas e das piadas grosseiras, remetendo ao macho das
cavernas. Darson Ribeiro parte do ótimo pressuposto do encontro de três homens
de estilos diferentes que se encontram na sala de espera da psicanalista e decidem
se ajudar mutuamente nos dilemas com o sexo oposto. O que parece ser mais uma
comédia que explora esses tipos vai se configurando em um retrato mais denso, à
medida que os personagens vão se humanizando, mas sem perder a graça. O trio de
atores, muito entrosados e bastante à vontade, garantem a diversão da plateia.
“CADA DOIS COM SEUS POBREMA” – Teatro
Frei Caneca
Texto:
Marcelo Médici
Direção:
Paula Cohen
Elenco:
Marcelo Médici e Ricardo Rathsam
Marcelo Médici obteve sucesso
arrebatador com “Cada um com seus pobrema”, em que interpretava vários
personagens através de vários esquetes. Mais tarde, se juntou a Ricardo Rathsam
no espetáculo “Eu era tudo pra ela e ela me deixou” que, ao contrário do
primeiro, era conduzido por uma dramaturgia com início, meio e fim. Agora, a
dupla une os esquetes do primeiro com a dramaturgia do segundo em “Cada dois
com seus pobrema”. E essa feliz junção rende muitíssimo bem, com um fio
condutor muito bem delineado, que serve de pretexto para Marcelo Médici
desfilar seus consagrados e engraçadíssimos personagens. O “ator intimado”
Ricardo Rathsam está em total sintonia com Médici, um dos nossos melhores
atores de composição. E essa incrível facilidade com que ele compõe seus personagens
se une a sua invejável habilidade de envolver a plateia. O resultado, claro, é
um espetáculo divertido e rico dramaturgicamente. Impossível não dar boas
gargalhadas.
“O HOMEM DE LA MANCHA” – Teatro Sesi SP
Texto original: Dale Wasserman
Músicas: Mitch Leigh
Tradução e Direção: Miguel Falabella
Mais
um grandioso musical com produção milionária e numeroso elenco de atores-cantores.
Falabella incorporou Bispo do Rosário ao universo fantástico de Cervantes ao transpor
para um hospital psiquiátrico a história do sonho impossível de Dom Quixote e
sua utopia de justiça e de um mundo melhor para todos. Um musical vigoroso, com
grandes vozes, dramaturgia rica e ótimas versões das canções. E o melhor: de graça!
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E
vocês? Já foram conferir algum desses espetáculos? Qual foi a última peça que
você viu? Aguardo seus comentários!