sexta-feira, outubro 03, 2014

CINEMA: O baile mais marcante da minha vida

Para inaugurar esse novo espaço dedicado às minhas reflexões e observações sobre cinema, decidi publicar novamente um texto que escrevi sobre “O baile”, de Ettore Scola, que resiste ao tempo e continua a ser meu filme de cabeceira. Perdi a conta das vezes em que assisti, mas a cada audiência, descubro um novo detalhe que aumenta mais meu fascínio pelo filme. Sei que é para poucos, pois a proposta é bem diferente e original, mas espero que a leitura instigue aos que ainda não conhecem e desperte nos que já assistiram a vontade de rever essa pérola de delicadeza de Ettore Scola.



Filme: O Baile (Le Bal)
Duração: 112 minutos
Direção: Ettore Scola – França / Itália, 1982.
Roteiro: Ettore Scola / Ruggero Maccari / Jean-Claude Penchenat / Furio Scarpelli
Vencedor do URSO DE PRATA no Festival de Berlim – 1983
Vencedor do CESAR de Melhor Diretor – Ettore Scola – 1983

Quando assisti a “O baile” pela primeira vez estava na mais tenra adolescência e jamais imaginava que um dia assinaria uma coluna de cinema. Sem ter a menor idéia sobre do que se tratava o filme, fui assistindo sem compromisso embalado apenas pela dança e pelas canções até que, atônito, deparei-me que já se passava da metade dele e não havia qualquer indício de diálogo. E o mais incrível: mesmo assim, minha atenção ainda estava completamente roubada por ele. Após o impacto inicial, esperei ansiosamente durante anos e anos por alguma reprise, até que numa dessas madrugadas inesperadas ela aconteceu. Não perdi tempo e gravei. Claro que virou meu filme de cabeceira.

Confesso que até hoje assisto ao filme com o mesmo entusiasmo de outrora e com cada vez mais fascinação pela genialidade de Scola, que consegue, magistralmente, comandar um inusitado baile em que são contados 50 anos de história da França (dos anos 30 aos 80), passando por guerras, advento do nazismo, indícios do que viria a ser chamado de globalização através da força do rock n´roll, influência latina, até a disco music daqueles tempos.

E os atores-dançarinos conseguem a incrível proeza de contarem uma história tendo como recursos apenas seus passos de dança, seus figurinos, suas expressões e seu enorme talento. Amor, ódio, solidão, ternura, tristeza, reencontros, desencontros... tudo contado com delicadeza e sensibilidade ímpares. A estrutura narrativa em mise-em-abyme funciona perfeitamente e o desfile de personagens exóticos através dos tempos é muito bem realizado.

Na época em que assisti, esta beleza não podia ser encontrada, a não ser em locadoras especializadas em filmes cult. Mas agora já pode ser adquirida nas principais livrarias, inclusive para comprar on line. Corra atrás de sua cópia e surpreenda-se com uma verdadeira aula de cinema.